sexta-feira, dezembro 30, 2005 6:08 PM

como tudo começou

por Ênio Vital

Lucas, quando era pequeno tinha dois grandes medos: um consistia na montanha-russa e o outra em ter o coração revelado, roubado e levado para bem longe por alguém. Hoje em dia, com muito frio na barriga, a montanha-russa foi superada. Agora, seu coração virou uma chuva de inverno, levado para longe como a enxurrada descendo a ladeira, roubado na mesma proporção de gotas que caem, e revelado da forma como essa chuva acontece.
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Para Helena, o pisoteamento no coração de alguém vem com pequenas coisas, as grandes nunca são digeridas e nem compreendidas, então basta para que os detalhes arrasem ou elevem um sentimento.
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Lucas sabia: dinheiro não compra mais nada. Claro, momentos especiais nunca foram comprados por dinheiro algum, até que ele foi até a porta dela. Hesitado, repensou que talvez devesse parar de se exceder, deixar se desvairar. Afinal, tantas estradas erradas, caminhos errados, amores errados. Porém nem tudo poderia estar errado, o covarde ficou esquecido.
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Helena, acha que Gerson, seu namorado, queria planos e sentimentos. Todavia naquele momento ela só tinha sentimento e o rosto dele. Uma condição de caça e presa, pulsava só de olhá-lo. Esperava uma resposta dele que nunca apareceu e nem apareceria. Ainda assim, acreditava no tempo de cada um, no momento de cada um, mesmo que este fosse no ‘tchau’.
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Gerson, sempre se sentia no céu, sempre apaixonado perdidamente, este era o seu maior segredo e o que mais era visível para ler-se em sua testa, fora seu sentimento altamente possuidor por ela, sua peça rara, com um ciúme exacerbado. Sua sutileza de rinoceronte fêmea no síl fez com que brigasse com Helena por uma simples demora no banheiro, dois whiskys a mais e uma hora de conversa com Lucas, seu melhor amigo.
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Como se soasse um segredo de verão, Helena abriu a porta e perguntou: “Fala Lucas, o que você quer uma hora dessas? Estou quase de saída para a formatura de minha irmã!”
Sem jeito e embaraçado, mas com fé, ele respondeu: “Só você!”.
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Sendo assim, toda a conversa na noite anterior, a briga e os dois whiskys à mais de Helena fizeram sentido.
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