quarta-feira, dezembro 21, 2005 10:49 AM

SEM TITULO

por Ênio Vital

- Ninguém fala comigo.
- Também, você é seco.
- Não sou seco.
- É sim senhor. Você é como aqueles muros que possuem caco de vidro em cima, por onde você se aproxima acaba machucando as outras pessoas.
- Eu sei disto. Porém com uma pequena diferença: sempre os deixo virado para dentro de mim, chegar perto de alguém empurra contra mim e não me sobra alternativa ao não ser chorar ou chutar.
- Os chutes andam sendo mais corriqueiros.
- A dor nunca é fácil de controlar.
- O amor nunca é fácil de encontrar.
- Essa frase é tão cretina.
- Não tem nada de cretino, você que é distante do mundo.
- É, sou distante do mundo como meu coração é distante do dela e ela é meu mundo.
- Você deveria ser mais incisivo.
- Como?! Não a conheço.
- Como não a conhece? Alta ou baixa? Loira ou Morena?
- Não sei, não sei.
- Lógico que sabe.
- Não sei. Nunca me encontrei com ela, sempre achei desde a primeira carta tudo uma maluquice, afinal, aonde já se viu encontrar um amor de baixo da porta? Ali, junto com contas e postais.
- Quem escolheu amar? E há qual hora?
- Nisso você até tá certo.
- Você deveria ser mais incisivo, insisto. Pois, ela mandou outras cartas.
- Não sei. Tenho medo.
- Medo do que homem?
- Estou habituado com o fracasso.
- Pois bem, chegou à hora do sucesso!
- Nada é tão simples.
- Ainda bem! Ou você acha que construímos casas com cartas de baralho?
- É...
- Preciso lhe dizer, eu a vi.
- Sério? Como assim?
- Sim. E, você também.
- Eu?
- Sim
- Não.
- Sim.
- Quando?
- Desde sempre.
- Desde sempre como?
- Desde sempre, em seus sonhos.

Desta forma o monologo cessou, o lado esquerdo ou parte emocional de seu cérebro calou o lado direito ou parte racional.
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