quinta-feira, dezembro 15, 2005 7:03 PM

Sorry, I'd like to kiss you, but...

por Ênio Vital

Ela, em todo momento, teve amores em seus dedos, mãos e pensamentos.
Iria conseguir experimentar de um amor como nenhum outro antes? Difícil de acreditar mas, Cecília, só de pensar nele, dorme com o som de guitarras elétricas e sonha com os astros do cinema. O "impossível" desferido pela Luciana e o "quem sabe" de Júlia, só faz todas as nuvens se parecerem menos com formas geométricas e abstratas para dar formas à coelhos, pirulitos, corações, flores, gatos entre tantas outras.
Ela não queria se esconder, sabia que ele estava vendo-a. Ao meio do verão, o brilho do sol escaldante, ela não conseguia cumprimentá-lo com apenas "olá"! Querendo quebrar o feitiço, mudar as coisas, todavia tudo que acontecia eram as linhas paralelas se declinarem devagarzinho sobre seus olhos. Então, uma mão fria tocou seu rosto e é ele, só podia ser ele. Por um momento, a eternidade poderia ser descrita e como chegar nela com uma velocidade incrível pelos seus olhos. Tudo foi esperado e inusitado, simples e complexo, totalmente som e fúria, assim foi o primeiro beijo.
Logo após aquele dia, lá estavam eles, fazendo juntos algo jamais antes feito. Testavam os mais variados tipos de guloseima um com o outro, passeavam de praça em praça, até que em uma, a gangorra e o realejo ganharam um significado todo especial, só para eles! Era como ganhar asas, poder voar, sair do plano terrestre, sobrevoar e brincar de se encantar com todas as pequeninas coisas vista lá de cima.
Entretanto, ela sabia, eu sabia, você sabia. O inverno chegaria, tiraria ele dela, as frustrações e tormentos voltariam junto com um velho medo dela: de nunca querer ser forte, só ser livre.
No começo, ela só corria para casa, corria enxugando as lágrimas, corria para que ninguém a visse, corria para se esconder.
Depois parou de correr, depois com mãos no bolso, depois chutando o chão pela vizinhança, depois começou sentir a mão suar, depois as pernas tremerem, depois o nariz secar, depois a angústia amargar a boca e um dia, ela tomou a maior de sua decisões após tanta poeira levantada e abaixada.
Cavoucou bem rente a uma pedra que ela conhecia bem e ele, melhor ainda. Ali, ela iria deixar descansar o pingente em formato de coração dourado que ele havia dado para lacrar o amor deles. Após enterrá-lo, ela fez um juramento para sí mesma:
"Só de pensar que um dia você já desenhou meu nome no seu coração torto com caneta esferográfica e que me fez pensar em beijos de baixo de chuva, tenho vontade de cuspir na calçada suja todos os beijos nem sonhados, nem consumados que ficarão para sempre, afinal, após aquela nossa briga, você não tinha o direito de acabar com sua vida, não mesmo, o meu coração é seu, só seu, você não poderia ter feito isso, jamais! Por isto deixo-o aqui no seu túmulo! Adeus!"
Desta forma, Cecília, nunca foi a mesma! Gostar das coisas com ou sem sal, não fazia mais sentido. Nada mais fez sentido. Amar nunca mais fez sentido.
0 comentários