sexta-feira, janeiro 13, 2006 7:29 AM

uma história de bar

por Ênio Vital

Eu queria existir para modificar tudo na vida dela, tudo para o bem. Não queria apenas ser uma linha na vida dela, mas um conjunto de capítulos, contos e crônicas, para mais tarde, virar uma memória profunda e sólida.
Meu sentimento por ela não acabava, na verdade, não parava de pipocar, isso sim! Parecia uma panela gigantesca fazendo pipocas com a tampa aberta, para todo lugar com tamanha força o meu amor por ela chegava em um novo lugar.
Também, me sentia tão preso à ela como um botão costurado com barbante, éramos fortes e denso, tenso, intenso!
Ela era como minha casa, tinha mais confiança com ela, nela. Se apagassem a luz, eu saberia como andar, mesmo no escuro!
Tudo era tão bom que em dias escuros e/ou cinzentos, aonde todos se escondem e querem que logo passe, na minha mente abria um álbum de fotografia de momentos de nós, de todas as coisas que nós fizemos e não dissemos, coberto pelo que foi dito e não dito!
Honestamente, nosso amor poderia manter-nos junto eternamente! Afinal, quando ela dizia “Adeus, até outro dia” para mim, eu conseguia enxergar nos olhos delas que, na verdade, ela estava querendo dizer: "Oi, tudo bem?", quando já tínhamos ficado pelo menos uma tarde inteira junto e conversado sobre tudo e todos, nada era saciável.
Isso parecia pouco, mas era tanto, tanto, ah, me fazia mover, como minha anfetamina preferida, fazia minhas correntes sanguíneas aumentar pressão, dilatarem-se, ferver meu sangue.
Em um dia, eu achei que tudo isso era recíproco.
Ela me contou que, antes de tudo, ela se sentia como num casulo sem nenhuma vontade de ver as coisas do lado de fora, a luz do dia. E, com todo esse tempo junto comigo, foi a espécie de dia da independência, de se libertar e sair.
Doce esse meu ledo engano, foi. Ela queimou tudo, disse que seria mais fácil desta maneira, então foi reduzido em miseras cinzas e segundo o que me contava na carta, "(...) me desculpe, mas eu percebi que você foi pequeno na minha vida perto deste meu novo amor (...)".
Obvio, não soube o que fazer, até hoje não sei mais como me comportar, pareço um cadáver por aí flutuando num oceano de vodca, separado de todo o resto. Mas agradeço pelo brinde que fizeram para mim, meus caros amigos ausentes, encerro contando que eu carrego, ainda, em minha carteira a foto que ela rasgou ao meio, me separando dela.
Fiquei meio sem reação, ela está - aqui e agora - no mesmo bar, em mais uma maldita fim de noite de esperas. Desafio ela com o olhar e ela com uma pergunta cheia de malícia:
- Nós estamos ambos sozinhos, o que você suponha que eu diga?
- Eu estou indo para casa e desejo nunca mais ver sua cara!
Com o estômago na boca e as pernas bambas, saí da mesa, do bar, e, definitivamente, da vida dela, deste jeito, consegui queimar o que outrora foi salvo e guardado, aquela foto rasgada.

(Se meu humor não mudar, ao mais tardar, este blog terá comentários logo logo!)
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