quarta-feira, outubro 22, 2008 2:43 AM

Por que escrevo?

por Ênio Vital

Não costumo dizer coisas a respeito da minha vida particular feito diário aqui.
Tento dizer coisas sobre minha pessoa de uma forma mais elaborada, mais atmosferizada, mais poética, por assim se dizer. Claro que tenho consciência de isso ser apenas uma pretensão e não uma constatação.
Entretanto, hoje, pretendo abrir uma excessão. É um caso especial pois gostaria de fazer registro de algo que tem muito a ver com este blog e do porque esse blog existe.

Na ESPM, até semana retrasada, aconteceu um concurso de poesia a qual eu estou competindo com o poema "Foi Assim" e o "Soneto do Mais-Seu" que podem ser lidos logo a baixo. A faculdade não só incentiva este tipo de criação com o concurso como criou uma "Semana da Poesia", uma brincadeira que deu certo de Mário Chamie - meu professor que, entre outras coisas, já trocou cartas e viajou com Jim Morrison até ser fundador do Centro Cultural São Paulo ou criador de um gênero de poesia entitulado de "poema-práxis".
Hoje se deu início as atividades da "Semana da Poesia" e para ser em grande estilo, Chamuskinha - apelido carinhoso dado pelos alunos ao Chamie - chamou seu amigo pessoal Ferreira Gullar para uma palestra que foi, na verdade, uma conversa informal sobre sua trajetória de vida pessoal, como criou uma forma de fazer poemas e declamou alguns poemas dele.
Eu estava lá no auditório com mais 100 alunos com circa de vinte anos, vendo aquele velhinho com seus mais de 70 anos, de fala mansa, com gírias de maranhense e pouco sotaque com o seu corte de cabelo tão autêntico que a gente o identifica no ato.
Falou durante um pouco mais ou um pouco menos uma hora e meia. Falou coisas que queria ouvir e outras tantas sem tanta importância. Dentre as coisas que eu ouvi e prestei muita atenção, foi de... guardada as devidas proporções e para ficar mais fácil o entendimento para meus leitores que, sim, fazer poemas ou escrever ou qualquer coisa que valha é muito o que Fernando Pessoa escreveu em seu poema Autopsicografia com "O poeta é um eterno fingidor".
Ele prosseguiu dizendo que qualquer escritor não vai falar de emoções ou sentimentos ou verdades que realmente existam. Escritores vão passar a visão deles de como enxergam o mundo, de como entendem o mundo e isso não é para ser considerado uma verdade de constatação feito ciência.
Meu ato de escrever neste blog circunda muito sobre essa questão.
Até que ponto escrevo: verdades? sentimentos? emoções? Tudo não passa da minha forma de ver as coisas.
Em continuação ao papo do Gullar, ele se situa como uma pessoa extremamente emocional que não suporta as cargas de sentimentos e emoções que uma pessoa comum está habituada e acomodada a suportar nas ocasiões do dia-a-dia que a maioria das pessoas passam desapercebidas ou não. Essa linha, estrastifica os poetas do resto das pessoas, separa os dois tipos de pessoas.
Esse é outro ponto em que me vejo semelhante. Não consigo passar em branco certas coisas em minha vida, preciso traduzí-las para forma de expressamento escrito. Tanto é que... esse texto que estou escrevendo e tentando contar porque tenho esse blog e como é a concepção dele para mim, sempre foi muito nítido dentro de mim desde o começo em 2005. Sempre tive todas essas idéias em minha cabeça, esses pontuamentos de escrever expressando o que sinto mas, para não ser falso comigo e com vocês, não é exatamente como sinto porque ninguém sentiria como eu e não quero fazer apenas um relato do que acontece - quero fazer algo poético, algo bonito, algo a mais. Todavia, só hoje consegui enxergar que precisava falar sobre esse tema e tenho certeza que isso só foi possível com essa palestra de Ferreira Gullar que é um senhor Escritor que tem em haver um Prêmio Nobel de Literatura.
Ou seja, só escrevi esse texto tendo como ponto de partida uma emoção de vê-lo falar sobre coisas que mexeram muito com algo intrinseco em mim e de falar a respeito dela. O que sempre fiz em todos os textos que escrevi para este blog.
De qualquer forma, vos garanto que, ao contrário dos demais, esse texto foi apenas um relato sem pretensões artísticas. Apenas um relato.
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