quarta-feira, fevereiro 25, 2009 9:39 PM

Sessão Descarrego

por Ênio Vital

Passei o dia inteiro pensando em coisas que eu gostaria de te dizer. Coisas nada agradáveis, vontade de te ferir, te magoar, fazer você se sentir o último dos seres. Sei que te e você não casam, mas foda-se a concordância, já que concordância é o que menos tenho na minha cabeça nesse momento.
Estou aqui sentado em frente à lareira, e penso que gostaria de ver você queimar do mesmo jeito que a lenha, que se contorce e estala. O castigo, a dor, seria pouco perto do que sinto desde que você me deixou entrar na sua vida por cinco minutos, só para depois me descartar feito o cigarro que acabei de jogar às chamas.
Hoje te odeio, ontem queria te amar sem rastro. Queria te entregar este desabafo, na esperança de que ele te fizesse sofrer e perecer. Queria te espancar, te mutilar, queria bolar um plano diabólico para destruir sua essência, sua inteligência, seu corpo e sua memória.
A culpa é sua. Toda sua. Minto, sua e minha, pois enxerguei mais em você do que havia e permeti que você fizesse da minha alma o seu depósito de lixo. Meu estômago dói. Me revolta, fico doente ao lembrar o tanto de desilusão que você deixou em minha porta, filha da puta. Porque perco meu tempo em conversas imaginárias com alguém que não merece me escutar.
Odeio ainda alimentar boas e poucas lembranças do seu rosto, do seu sorriso, do seu papo alienado. Odeio ter vontade de chorar todos os dias.
Me odeio por odiar você com tanta força e ao mesmo tempo com tão pouca vontade.
Gostaria de gritar tudo o que acabei de escrever nos seus ouvidos, tão alto que você jamais voltaria a ouvir. Queria te ver aleijada, incapacitada, perdida, infeliz, impotente, quero te ver estragada, esquecida, desmemoriada, fodida.
Talvez assim, você pudesse me deixar cuidar de você, te reabilitar, te amar.
Talvez assim, eu pudesse ouvir de você que eu sou a melhor coisa que apareceu na sua vida.

Originalmente escrito em 17 de dezembro de 2007
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