terça-feira, abril 14, 2009 11:18 AM

Calcule só a prosopopéia

por Ênio Vital

"E não é que sua vida está ligada em tomada de 220 volts, mesmo...
Faz tanto tempo que não temos aquelas conversas, não fazemos aquelas confissões...
Às vezes ficamos competindo quem faz mais trabalhos, quem está ficando com a pessoa mais legal, quem leu o livro mais difícil no último mês. Só não chega a ser uma competição de fato porque não é tão declarada, é algo como: “Pô, li dois capítulos do jogo da amarelinha. To entendendo tudo” - Não é possível ele entender tudo. Eu não estou entendendo tudo! – “Ah é, é? Eu to lendo dois livros de poesia do Drummond e to achando genial!”.
- Poxa, realmente não é competição e me odeio por ter usado essa palavra. Eu disse inúmeras vezes que gostaria de ser ele, ter a perspicácia, inteligência e o tato com as palavras quase que inerente àquele garoto, e só a ele. Isso não é competir, é ser humilde até demais –.
Nós nunca brigamos, eu acho; ainda mais por essa pseudo guerra de egos. Entendemos um ao outro porque somos iguais; competitivos, arrogantes, prepotentes... No entanto, o que pode soar como alfinetadas para um terceiro, para nós é apenas um incentivo, um querer abstrato de trocar semelhanças, experiências, idéias, opiniões.
Tantas vezes já te disse que gostaria de ser sua vizinha... – ele é um dos poucos que me entende e por mais que solte comentários dispensáveis, do tipo que eu pense “não to precisando ouvir isso agora”, é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci – .
Queria te definir em uma metáfora, mas não dá. Eu não sei o motivo, mas sempre relacionei metáfora com candura (acho que é por causa de Camões, na verdade.) e você é qualquer coisa menos brando, ingênuo, inocente ou qualquer outro sinônimo que existe para “candura”, mas te acho doce. Doce dentro de seu azedume, que fique claro; mas pra mim é doce. Agridoce. Melhor ainda! É, da pra te traduzir como um paradoxo, não é? Você é uma contradição viva e esperta demais que certas vezes chega até dar medo
- De fato, é como se algo sobre humano ocupasse aquela carcaça de derme rosada, com o topo enfeitado de fios ondulados de uma cordeburroquandofoge. É de essência humana, com sentimentos, defeitos e virtudes; mas ainda assim não é como outra pessoa qualquer. É singular demais para sê-lo, mas sorri; e é demasiado normal já que não tem o sorriso mais perfeito do mundo, é cruzado, e é aqui que está a beleza –
Não se preocupe, não. A perfeição ta longe de te atingir, ser super-herói brasileiro ainda é posto de Macunaíma porque você ainda sorri torto e é tímido demais para carregar qualquer jargão semelhante ao do He-Man."

Texto confeccionado pela Lívia Palmieri
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